segunda-feira, 15 de setembro de 2008

ERA DO VAZIO

A ERA DO VAZIO

Viver a Era do Vazio significa uma metáfora. Não é um vazio absoluto. Hoje, o vazio, é antes uma desorientação, um vazio de referências estruturantes que não vem do fato de não existirem, mas de simplesmente terem se tornado flutuantes, e muito numerosas. Digo que muito mais do que era do vazio, vivemos a "era do vago", a era da confusão, a era da desorientação.

Há, de um lado, o colapso das grandes ideologias da
história, mas ao mesmo tempo elas se recompõem por certos "grandes
discursos". Primeiramente, os direitos do homem; em segundo, a ideologia
médica – há uma espécie de obsessão pela saúde hoje em dia – e, por
fim, a preocupação com o ambiente e a natureza.

Todo mundo sabe bem que a lógica de hiperconsumismo não poderá ser seguida indefinidamente e que há limites ligados à natureza. É um bom sinal, quer dizer que o individualismo não é completamente cego e deixa a porta aberta para uma tomada de consciência dos problemas do futuro.

Há uma crise, porque muitas pessoas vivem mal, as
mulheres ficam mal, por exemplo, por estarem gordas demais, vivem mal quando fazem regimes nos quais fracassam. A situação, de hiperconsumismo na qual estamos, acarreta uma situação de crise, tanto numa escala global, com o problema do ambiente, quanto na escala individual, com a multiplicação das depressões, das ansiedades, das angústias, das tentativas de suicídio. Há,
portanto, com a sociedade de hiperconsumo, uma fragilização dos indivíduos
que faz com que o bem-estar material cresça, mas ao mesmo tempo a existência se torne mais difícil, mais geradora de ansiedade. As pessoas têm menos defesas pessoais para enfrentar as crises.

O século XXI vai ver se desenvolver esse tipo de processo que está ligado à individualização pelo fato de que os planos conectivos tradicionais, religiosos, são menos
fortes que antes, menos estruturantes que antes, e isso acarreta uma
fragilização das pessoas, uma espécie de desequilíbrio que se traduz por
toda essa espiral de problemas subjetivos.

Quanto à educação posso afirmar que há uma crise múltipla. É preciso que a escola saiba encarar tais desafios, já que não há nada de impossível. Não devemos aceitar que os cidadãos das sociedades desenvolvidas não dominem saberes tão fundamentais. Há uma crise da escola, porque a escola se choca agora contra os mass media. Antes, a escola laica chocava-se com a religião. Hoje, a escola laica choca-se com a televisão e a internet. E nós vamos ter de transformar muito os métodos da educação a fim de que a escola integre a capacidade que temos hoje de ter uma informação ilimitada e fácil. Portanto, um dos novos desafios é recompor o que devem saber os cidadãos. Isso não está claro, pois os saberes e as informações são superabundantes, pode-se ter tudo no plano da informação.

A escola ainda não compreendeu isso. Portanto, é preciso repensar o que deve ser uma cultura geral, para se orientar dentro do saber e para permitir ter algumas grandes linhas referenciais importantes, para poder depois orientar-se dentro da superabundância de informação. A escola também deve oferecer aos jovens não somente saberes, mas também experiências que ampliem seus horizontes. A época em que escola só transmitia saberes fundamentais corresponde a um período passado. Hoje é mais complicado, porque tudo está aberto às pessoas. Deveríamos abrir a escola para o mundo exterior. As pessoas mudam muito em função das experiências, dos encontros com outras pessoas e com coisas que elas não conhecem. E assim teríamos uma escola mais dinâmica e estimulante, por exemplo, se as profissões diversas pudessem chegar à escola para mostrar aos jovens todas as possibilidades que há de viver neste mundo. Os jovens conhecem, de fato, um mundo bem pequeno, o mundo em torno deles, de seus pais e de seus amigos. A escola deve fazê-los experimentar outras coisas. Esse é o grande desafio que transformará os métodos
fundamentais da escola. A escola não sofre de falta de valores, mas de referências para construir o século XXI. Ela deve ser mais aberta, mais experimental.

A escola deve, a princípio, fornecer ferramentas conceituais e teóricas, mas apenas isso não
basta, pois o mundo hoje é aberto, variado, mutante. Creio que uma escola mais aberta a experiências mais humanas – e não somente teóricas – seria mais estimulante. Um lugar de vida, e não simplesmente um lugar onde se aprende a base para situar-se no futuro. Nós devemos, ao contrário, restabelecer a disciplina nas escolas. Devemos ensinar os jovens a ver que ser um adulto é respeitar determinado número de regras, é aprender, é progredir e, para isso, é preciso trabalhar. A escola deve colocar isso, mas não por meio da violência ou do terror, simplesmente porque essa é a condição para ser um adulto responsável. É preciso fazê-lo. Há necessidade de limites, de restrições e de disciplina para que se forme alguém capaz de dominar seu ambiente. Mas também é preciso abrir a escola às novas dimensões do mundo e ampliar os horizontes dos jovens.

Rafael Adriano de Oliveira Severo

Mestrando em Educação pela UFU - Universidade Federal de Uberlândia

Fonte: Rafael Adriano - Educador Social

Palavras-chave: Era - Vazio - Crise




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5 comentários:

Anônimo disse...

Adriano,

Concordo plenamente com seu ponto de vista, ainda mais pelo fato de estar tornando isso uma realidade, ainda que pareça pouco e em vão, nunca se esqueça das palavras de Santa Terezinha quando disse:"sou uma gota no oceano, mas o oceano não seria o mesmo sem essa gota".
Saiba que admiro muito o seu trabalho e o de todos os colaboradores dessa obra salesiana.
Um grande abraço!

Jaqueline Maia - Pré-upset

Anônimo disse...

Rafael,

Parabéns pelo artigo! É fácil perceber suas posições claras e consistentes sobre a contemporaneidade , sobretudo no que tange ao processo educacional. Quando possível, gostaria de compartilhar também minhas percepções sobre o tema com você. Abraços do amigo.

Anônimo disse...

Adriano, muito obrigado por suas apreciações ao meu texto. Gosto muito do seu trabalho, de sua seriedade e da maneira sublime e profissional como trata a informação e o conhecimento. Obrigado. Rafael Adriano

Anônimo disse...

Jaqueline Maia, muito obrigado por suas considerações, pois são muito importantes para nosso trabalho. Continue sempre visitando nosso Blog, sempre traremos notícias úteis e relevantes. Rafael Adriano - Educador Social.

Anônimo disse...

Tem toda razão o Adriano em seu artigo. Nos mostra a necessidade não somente da escola de saber lidar com o ritmo frenético da informação e suas consequências no processo educacional, mas também da própria necessidade da escola enquanto instituição se abrir para o novo, para poder com ele relacionar, e deixar de lado o comodismo de alguns velhos métodos do passado, sabendo manter as benéfices do bom tradicionalismo. O papel da escola, que sempre foi de conservadorismo em relação a sociedade, precisa de um pouco mais de sensibilidade ao novo sem deixar de lado os valores básicos na formação humana, para que com isso se tenha ferramentas eficientes para lidarmos todos com a ´´superabundância´´ de informações, acessos e possibilidades que se tem hoje em dia.

Márden - Belo Horizonte