terça-feira, 2 de setembro de 2008

DOM BOSCO E A BÍBLIA

Natale Cerrato

Num capitulo da Constituição dogmática sobre a Revelação Divina, promulgada pelo Concílio Vaticano II, que trata da "Sagrada Escritura na vida da Igreja", todos os cristãos são vivamente convidados à leitura freqüente do Livro Sagrado.

É um fato que, nos tempos de Dom Bosco, no Piemonte, na catequese paroquial e escolar, a leitura pessoal da Bíblia não era ainda suficientemente praticada. Mais que recorrer diretamente à Bíblia costumava-se fazer uma catequese com exemplos tirados dos Compêndios de História Sagrada.

É assim que se fazia também em Valdocco.

Isto não quer dizer que Dom Bosco não lesse e não meditasse pessoalmente a Bíblia. Já no Seminário de Chieri ele tinha à sua disposição a Bíblia de Martini (A. Martini, Antigo e o Novo Testamento da Vulgata, traduzido para o italiano, com notas, Turim, Editora Reale, 1768-1781), além de outros conhecidos comentários como os de Calmet. Mas é um fato que, quando ele estava no Seminário, eram estudados, principalmente, tratados, de caráter doutrinal, mais que de estudos bíblicos propriamente ditos, mesmo que os tratados dogmáticos incluíssem, evidentemente, citações bíblicas. O clérigo Bosco não se contentou com isso e se tornou um autodidata, na matéria.

No verão de 1836 Don Cafasso, ao receber seu pedido, lhe propôs de lecionar grego aos internos do Collegio del Carmine de Turim, residentes em Montaldo, pela ameaça da cólera. Isso o levou a interessar-se seriamente pela língua grega, a fim de se tornar apto para ensiná-la.

Com o auxílio de um sacerdote jesuíta, profundo conhecedor do grego, o clérigo Bosco fez grandes progressos. Em apenas quatro meses o culto jesuíta fez com que ele traduzisse o Novo Testamento e, depois, por quatro anos ainda, toda a semana controlava alguma composição ou versão grega que o clérigo Bosco lhe enviava; e ele, com oportunas observações, as revisava. "Deste modo – disse o mesmo Dom Bosco – pude chegar a traduzir o grego como fazia com o latim".

Seu primeiro biógrafo assegura que, em 10 de fevereiro de 1886, já velho e doente, Dom Bosco, na presença de seus discípulos, costumava recitar, por inteiro, alguns capítulos das Cartas de São Paulo em grego e em latim (cf. MB 1, 394-395).

Das citadas Memorie Biografiche temos conhecimento que o clérigo João Bosco, durante o verão, em Sussambrino, onde morava com o irmão Giuseppe, costumava subir até a vinha de propriedade de Turco, e ali se dedicava ao estudo que não tivera oportunidade de fazer durante o ano escolar, especialmente ao estudo do Velho e do Novo Testamento, de Calmet, da geografia dos Lugares Santos, e dos princípios da língua hebraica, conquistando um conhecimento suficiente.

Ainda em 1884, lembrava-se do estudo de hebraico e foi visto em Roma, entrar em Roma entrar com um professor de língua hebraica para explicar certas frases originais dos profetas, fazendo confronto com os textos paralelos de diversos livros da Bíblia. Entretinha-se também numa tradução do Novo Testamento do grego (cf. MB 1, 423).

Dom Bosco, portanto, como autodidata, foi um estudioso atento dos escritos da Bíblia, e deles teve um conhecimento bastante notável.

Um dia, ainda estudante de teologia foi procurar um seu velho professor e amigo, Don Giuseppe Lacqua, que morava em Ponzano. Este, informado da visita, enviou-lhe uma carta na qual dizia, entre outras coisas, "quando chegar o tempo de vir encontrar-me, lembre-se de trazer os três volumes da Sagrada Bíblia (cf. MB 1, 484).

Isto prova, com evidência, que o clérigo Bosco os estudava.

Jovem sacerdote, conversando com seu pároco, Teólogo Cinzano, falou com ele sobre a mortificação cristã. Dom Bosco então lhe citou as palavras do Evangelho "Si quis vult post me venire, abneget semetipsum, et tollat cruzem suam quotidie et sequatur me" (Lc 9, 23). "Se alguém me seguir, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz de cada dia, e me siga". O teólogo Cinzano interrompeu-o, dizendo:

- "Você acrescenta uma palavra, este quotidie (de cada dia), que não está no Evangelho".

E Dom Bosco:

- "Esta palavra não se encontra nos três evangelistas, mas está no Evangelho de São Lucas. Consulte o capítulo nono, versículo 23, e verá que eu não acrescentei nada".

O bom Pároco, que era também muito estudioso das disciplinas eclesiásticas, não tinha notado o versículo em Lucas, mas Dom Bosco tinha notado com muita atenção. Mais de uma vez, Don Cinzano contou este fato com muito prazer (cf. MB 2, 510-511).

O empenho de Dom Bosco em Valdocco

Dom Bosco demonstrou, em tantos outros modos, este seu profundo interesse e estudo da Sagrada Escritura, e interessou-se muito em torná-lo conhecido aos seus filhos de Valdocco.

Basta pensar na sua edição História Sagrada, impressa, pela primeira vez, em 1847, e depois reimpressa em 14 edições e dezenas e mais dezenas de re-impressões, até 1964.

Basta pensar em tantos outros escritos seus relativos à história bíblica, como Maniera facile per imparare la Storia Sacra, publicada pela primeira vez em 1850; a Vita di San Pietro, publicada em janeiro de 1857, como um volume das Leituras Católicas; a Vita di San Paolo, publicada em janeiro do mesmo ano, como mais um volume das Leituras Católicas; a Vita di San Giuseppe¸ publicada no fascículo das Leituras Católicas de março de 1867 etc.

Dom Bosco mantinha como marcas do seu breviário, frases da Sagrada Escritura, como a seguinte: "Bonus Dominus et confortans in die tribulationis" ( O Senhor bom consola nas tribulações) (Na 1, 7) (cf MB 2, 524).

Mandou pintar nas paredes do pórtico de Valdocco frases da Sagrada Escritura como esta: "Omnis enim qui petit accipit, et qui quaerit invenit, et pulsanti aperietur"(Mt 7,8: "Todo aquele que pedir receberá, aquele que procura acha; e a quem bate será aberto" cf MB 5, 543).

Desde de 1853, quis que seus estudantes de filosofia e de teologia estudassem, toda semana, dez versículos do Novo Testamento, e o recitassem literalmente, mas manhãs de quinta-feira.

Na inaguração do curso, todos os clérigos tinham nas mãos o volume da Bíblia Vulgata latina, aberto nas primeiras linhas do Evangelho de São Mateus. Mas Dom Bosco, rezada a oração, começou falar, em latim o versículo 18 do capitulo 16 de Mateus: "Et ego dico tibi quia tu es Petrus, et super hanc pedram aedificabo ecclesiam meam, et portae inferi non preavalebunt adversus eam"; "E eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (cf MB 6, 205). Desejava mesmo que seus filhos guardassem sempre na mente e no coração esta verdade evangélica.

Fonte: (Sistema Salesiano de comunicação Social)

Palavras-chaves: Dom Bosco, Bíblia, Valdocco

Gestor da Informação: Julio César dos Santos – Articulador Social



Um comentário:

Anônimo disse...

A Bíblia é o livro fundamental na vida de todo ser humano, aliás, é justamente nela que toda a nossa vida deve ser fundamentada. É lamentável que muitas pessoas, principalmente a juventude, ainda não tenha essa consciência.
A exemplo de Dom Bosco que, com tanta dificuldade de acesso a essa fonte inesgotável de Sabedoria Divina, conseguiu grandes e importantes avanços, possamos nós, valorizarmos essa exclusiva obra literária de Deus.

Jaqueline Maia - Pré-vestibular