04/04/2008
TEMA: A PASAGEM DO MITO PARA A RAZÃO
"Perdemos sem cessar nossas idéias.
É por isso que queremos tanto agarrar-nos a opiniões prontas."
Deleuze e Guattari
è MYTHOS (grego) = PALAVRA / O QUE SE DIZ.
è FILOSOFIA (grego) = PHILOS – SOPHIA
AMOR _ SABEDORIA
è Os mitos gregos surgem quando ainda não havia escrita, portanto, eram preservados e transmitidos oralmente.
è Os mitos gregos tinham como função transmitir os valores da cultura por meio das histórias dos deuses e antepassados, expressando uma determinada concepção de vida.
è Na Grécia antiga (civilização micênica) o indivíduo era preso ao destino e é constantemente influenciado pela ação divina. Neste sentido, pode-se dizer que não havia vontade própria e liberdade.
è Na obra TEOGONIA (teo = deus; gonia = origem), Hesíodo relata as origens do mundo e dos deuses, em que as forças da natureza vão se divinizando: TERRA – GAIA/
CÉU – URANO/ TEMPO – CRONOS.
UMA NOVA ORDEM
è Por volta do século VII ac. Surgem os primeiros filósofos gregos. Com o surgimento da filosofia (pensamento crítico racional) ocorre a passagem da mentalidade mítica para a racionalidade.
TRES FATORES QUE CONTRIBUIRAM PARA O DESENVOLVIMENTO DA FILOSOFIA
è A dessacralização da escrita foi um fator importante para o desenvolvimento do pensamento filosófico. A escrita possibilita uma nova estrutura de pensamento, pois exige daquele que escreve um maior rigor.
è A moeda desempenha papel revolucionário, pois está vinculada ao nascimento do pensamento racional crítico.
è Pólis - cidade. A pólis se faz pela autonomia da palavra, não mais a palavra mágica dos mitos, palavras dadas pelos deuses e, sim pela palavra comum a todos, a palavra humana, do conflito, da discussão, da argumentação. A expressão da individualidade por meio do debate faz nascer a POLÍTICA e O CIDADÃO. Cidadão livre dos exclusivos desígnios divinos e capaz de tecer seu destino na praça pública (àgora).
OS PRIMEIROS FILÓSOFOS
è Conhecido como pré-socráticos, os primeiros pensadores (filósofos) centram sua atenção na natureza e elaboram diversas concepções acerca do cosmo (mundo - universo) procurando a racionalidade constitutiva do Universo.
è Ao perguntarem como seria possível emergir o COSMO do caos (desordem), os pré-socráticos buscam o princípio (a arché) de todas as coisas.
è As respostas dos filósofos a questão do fundamento das coisas são as mais variadas: para Tales de Mileto a origem das coisas está na água; para Anaxímenes, a origem está no ar; para Demócrito, é o átomo, para Empédocles, são os quatro elementos: terra, água, ar e fogo.
è Assim a filosofia nasce da pergunta, do questionamento. O QUE É? PORQUE É? O QUE É O SER HUMANO? O QUE É A VIDA? O QUE É O COSMO?
MITO E FILOSOFIA: CONTINUIDADE E RUPTURA
è A diferença entre pensamento mítico e filosofia: os filósofos divergem entre si; e a filosofia se distingue da tradição mítica oferecendo uma pluralidade de explicações possíveis. Os filósofos buscam explicações para a origem do mundo pela via da razão. Enquanto Hesíodo (poeta) relata o principio do mundo e o nascimento dos deuses a partir da sua gênese no tempo. O mito é uma narrativa cujo conteúdo não se questiona, enquanto que a filosofia problematiza e, portanto, convida a discussão. Ela busca a coerência interna, a definição rigorosa dos conceitos.
è Daí pode ser compreendida a ruptura entre MYTOS e LOGOS (RAZÃO) ou a passagem do mito para a filosofia.
A REFLEXÃO FILOSÓFICA
è O Método utilizado por Sócrates (Atenas, século V ac.), para refletir filosoficamente, ainda hoje é atual. Este método recebeu o nome de IRONIA SOCRÁTICA.
è Partir do princípio "Só sei que nada sei" pode nos levar a assumir, em nossa vida, uma postura filosófica, pois assim, buscaremos a cada dia apreender mais sobre os mais diversos assuntos.
è Sócrates se coloca como aquele que nada sabe e, se aproxima daquele que se considera conhecedor de determinado assunto, para assim estabelecer, por meios de perguntas um diálogo. Desta forma, Sócrates conduz seu interlocutor a refletir mais a fundo sobre aquilo que pensava saber. Ao final do diálogo, o interlocutor percebe que nada sabe. Este método possibilita uma nova abordagem, um novo caminho e nos conduz a buscar conhecer mais. Por isso o método recebe o nome de IRONIA SOCRÁTICA, pois Sócrates ao final da discussão faz com que seu interlocutor descubra que nada sabe.
è Com isso Sócrates despertava o pensamento estagnado daqueles que se consideravam detentores do saber.
CONHECIMENTO
è Conhecer é dar sentido ao mundo e interpretar a realidade, é descobrir formas para nele agir.
è A verdade continua sendo um propósito humano necessário, mas essa busca supõe o exercício da liberdade de pensamento e o diálogo pelo qual os indivíduos compartilham as interpretações possíveis do real.
è O conhecimento é um esforço psicológico pelo qual procuramos nos apropriar intelectualmente dos objetos.
è Ato de conhecer: relação que se estabelece entre a consciência que conhece e o objeto a ser conhecido
è Produto do conhecimento: resultado do ato de conhecer, conjunto de saberes acumulados e recebidos pela tradição.
INTUIÇÃO
è A intuição: é o ponto de partida do conhecimento, a possibilidade da invenção, da descoberta, dos grandes "saltos" do ser humano.
è Intuição sensível: conhecimento imediato dado pelos nossos sentidos (audição, visão, olfato, tato, paladar)
è Intuição inventiva: é a intuição que permite novas criações, novas hipóteses (artistas, cientistas e em nossa vida diária utilização dessa intuição)
è Intuição Intelectual: busca captar a essência do objeto. Ex. Descartes: "Penso logo existo"
O QUE É CONHECIMENTO?
è Conhecimento discursivo se dá por meio de conceitos:
Idéias ___ Juízos ___ Raciocínios____ Conclusão
è A razão precisa abstrair "separar", para poder conhecer melhor (separar o elemento de uma representação).
Ex: Ao vermos um cinzeiro com algumas características particulares (é de vidro; é azul; é quadrado etc.). Separamos (abstraímos) essas características secundárias, para chegar a idéia "pura" de cinzeiro. (Cinzeiro: objeto que serve para recolher cinzas).
è Na matemática trabalha-se com a abstração, a idéia "pura". Ex: não se ver o número 3 solto por ai, o que vemos é um conjunto de objetos. O número então existe em nossa mente. O que vemos ao escrever é uma representação.
è O conhecimento se faz, portanto, pela relação contínua entre intuição e razão; entre vivência e teoria; entre concreto e abstrato.
VERDADE
è O falso ou verdadeiro não estão na coisa mesma, mas no juízo, e, portanto no valor da verdade da afirmação.
è Há verdade ou não dependendo de como a coisa aparece para o sujeito que conhece
è O conceito de verdade diz respeito ao campo da moral
VERDADE: DO GREGO ALETHEIA (NÃO OCULTO, O QUE É EVIDENTE)
è Verdade, para Aristóteles e os filósofos medievais, é a adequação do nosso pensamento a coisa
IDÉIA = OBJETO
Ex: IDÈIA DE COPO = OBJETO - COPO
è Descartes: Verdade é toda idéia clara e distinta. É uma evidência resultante da intuição intelectual.
è Nietzsche: é verdadeiro o que contribui para fomentar e vida da espécie. A verdade como valor existencial.
è Pensamento contemporâneo (Filosofia Analítica): a verdade está na coerência interna dos argumentos. Se não há contradição, então é verdadeiro.
è A verdade enquanto resultado de um consenso, conjunto de crenças aceitas pelos indivíduos, em determinado tempo e lugar e que os ajuda a compreender o real e agir sobre ele.
è O que se busca não é e verdade objetiva, mas as proposições validadas no processo argumentativo em que se alcança o consenso.
DOGMATISMO
è DOGMATIKÓS = em grego significa "o que se fundamenta em princípios" ou aquilo que é relativo a uma doutrina. Dogmatismo é doutrina segundo a qual é possível atingir a certeza. Ex: Dogma da santíssima Trindade, as três pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo) não são três deuses, mas apenas um. Deus é uno e trino. Este princípio deve ser aceito pela fé, mesmo que não possa ser compreendido pela razão.
CETICISMO
è Ceticismo = vem do grego SKÉPIS que significa investigação; procura; a sabedoria não consiste em alcançar a verdade, mas somente em procurá-la. Para alguns, mesmo que seja possível encontrar a certeza, não se deve abandonar a sua busca.
"Todo conhecimento precisa ser constantemente revisitado pela crítica,
com a construção de novas teorias filosóficas ou científicas,
a fim de se prevenir contra as opiniões prontas"
Deleuze e Guattari
Referência Bibliográfica:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires: Filosofando: introdução a filosofia. 3.ed. São Paulo: Moderna, 2003. p. 52-92.
Responsável pelo encontro: Angelo Coimbra
(Secretário)
Palavras-chave: Mito, Razão, Filosofia.