O PLANEJAMENTO COMO
MÉTHODOS DA PRÁXIS PEDAGÓGICA
Re-significando a Prática do Planejamento
Qual o sentido do planejar? Porque um sujeito/grupo vai se envolver com esse
tipo de atividade? Alguns educadores ao mesmo tempo em que aceitam a
importância do planejamento, tem também sérias desconfianças;concordam com a
idéia geral do planejamento,mas estão marcados pela experiência de elaboração
de planos burocráticos,formais,controladores.Se o educador não vê objetivo em
planejar,com certeza não irá se envolver significativamente nesta atividade.
Para estabelecer um referencial de comunicação, esbocemos inicialmente um
conceito:planejar é antecipar mentalmente uma ação a ser realizada e agir de
acordo com o previsto;é buscar fazer algo incrível,essencialmente humano:o real
ser comandado pelo ideal.
Re-significar o planejamento para o sujeito implica resgatar sua necessidade e
possibilidade, em dois níveis: uma mais geral e outro específico da atividade
de planejar.
NECESSIDADE Mudança Querer mudar a realidade; estar vivo,em movimento.
Planejar Ponto de partida para todo o processo de planejamento.
POSSIBILIDADE Mudança Acreditar na possibilidade de mudança (em geral e
daquela determinada realidade);esperança;abertura.
Planejar Ver condições de poder antecipar e realizar a ação.
Planejar, então,remete a: querer mudar algo;acreditar na possibilidade de
mudança da realidade; perceber a necessidade da mediação teórico-metodólogica;
vislumbrar a possibilidade de realizar aquela determinada ação.para que a
atividade de projetar seja carregada de sentido,é preciso que o educador veja o
planejamento como necessário (aquilo que se impõe,que deve ser,que não se pode
dispensar) e possível (aquilo que não é,mas poderia ser,que é realizável).
1. NECESSIDADE DO PLANEJAMENTO
O fator decisivo para a significação do planejamento é a percepção por parte do
sujeito da necessidade de mudança.É claro que se tudo vai bem,se nada há para
se modificar na escola,para quê introduzir este tal de "plano". É incrível,mas
muitos educadores parecem tão satisfeitos –ou alienados...-com suas práticas
que não sentem necessidade nem de aperfeiçoamento.Talvez,se questionados sobre
a escola,até tenham o que dizer;ou não,de medo que dizendo alguma coisa possa
sobrar alguma tarefa para eles... Todo o trabalho da ideologia dominante vai
no sentido de anestesiar a percepção das contradições e a conseqüente
necessidade de mudança.O ponto de partida é uma pergunta básica:há algo em
nossa prática que precisa ser modificado,transformado,aperfeiçoado? Se não
há,não se precisa de projeto? (A ausência de falta, a inapetência) física
e /ou intelectual),a ausência de desejo é sinal de estagnação.
O grande nó do planejamento educacional pode estar na estagnação do autêntico
trabalho pedagógico devido a:
• Fatores externos: a falta de condições e de liberdade, a cobrança
formal e autoritária do cumprimento do programa, etc;
• Fatores internos: o educador que se entregou, que abriu mão de lutar,
de resistir contra as pressões equivocadas.
Não há processo, técnica ou instrumento de planejamento que faça milagre. O que
existem são caminhos , mais ou menos adequados.De qualquer forma,o fundamento
primeiro de qualquer processo de planejamento está num nível mínimo
(considerado que a realidade é sempre contraditória e processual), pessoal e
coletivo,de compromisso(desejo, ética,responsabilidade) e competência
capacidade de resolver problemas).
Na área educacional entre educadores, membros de equipes de coordenação,
direção,mantenedores,pais,funcionários,alunos estão presentes forças de vida e
de morte.Chegamos a nos sentir com ausência de desejo:quem quer a escola?Quem
acredita na escola como caminho de construção de uma sociedade mais justa ?
Escola para que? Simplesmente como meio de subsistência?
O que dá vida a uma escola? Seria o planejamento? Não podemos ter esta ilusão.
São as pessoas,os sujeitos que historicamente assumem a construção de uma
prática transformadora.Antes de mais nada,precisamos de uma "matéria-prima"
fundamental:as pessoas,que buscam,sonham,pensam,interrogam,desejam.Numa
concepção libertadora,sujeitos,projeto e organização devem se articular a
partir do fundamental,que são as pessoas,construtoras e destinatárias da
libertação.
Não vivemos sem desejo. Precisamos nos aproximar, precisamos somar forças –
ainda que diminutas –dos que estão vivos e querem lutar pela vida... Por outro
lado, como dizia Dom Helder. "O número de pessoas que querem o bem, é muito
maior do que a gente imagina".
É preciso acreditar, estar marcado pelo desejo de mudar, pela busca de
melhoria,pelo compromisso com a transformação.A questão essencial,portanto,a
ser colocada é:
O planejamento só tem sentido se o sujeito coloca-se numa perspectiva de
mudança.
2. O EDUCADOR COMO SUJEITO DE TRANSFORMAÇÃO
Para resgatar o lugar do planejamento na prática escolar, há um elemento
fundamental que é o educador se colocar como sujeito do processo educativo.Quem
age por condicionamento,não carece de planejamento,pois alguém já planejou por
ele.Podemos dizer que o indivíduo está na condição de sujeito de transformação
quanto a uma prática,quando em relação a ela há um querer (estar resolvido a
fazer alguma coisa)e um poder(capacidade de realizar algo).
3. FLEXIBILIDADE
Praticamente todo o livro que trata de planejamento, traz como critério
orientador da sua elaboração a flexibilidade. Entendemos que é preciso uma
reflexão mais cuidadosa sobre isto, porque, em nome do tal critério, o que
temos observado, não poucas vezes, é uma autentica descaracterização do
planejamento, já que "qualquer coisa" é colocada no projeto,pois não há
compromisso com sua realização,dado que é flexível.
Estamos aqui correndo o risco de duas tentações extremas: de um lado,o
planejamento se tornar um tirano da ação,ou,de outro,se tornar um simples
registro,um jogo de palavras,desligado da prática efetiva do educador.
Precisamos distinguir flexibilidade de frouxidão: é certo que o projeto não
pode se tornar uma camisa de força, obrigando o educador a realizá-lo mesmo que
as circunstâncias tenham mudado radicalmente, mas isto também não pode
significar que por qualquer coisa o educador estará desprezando o que foi
planejado.Partimos do seguinte princípio – que é ético e estratégico –se vai
para o projeto é para acontecer!
Esta exigência estamos nos colocando como forma de resgatar a credibilidade do
processo de planejamento. Com certeza teremos propostas não concretizadas; mas
que isto fique por conta realmente de fatores difíceis de serem previstos ou
ponderados.Em outras palavras:devemos ter uma boa explicação para sua não
realização.E precisamos nos cobrar mutuamente neste sentido,para evitar
qualquer tipo de acomodação.
4. FINALIDADES DO PLANEJAMENTO
A partir dessas reflexões,podemos explicar algumas finalidades do planejamento.
• Possibilitar a reflexão e a (re) significação do trabalho;
• Resgatar o espaço de criatividade do educador e o sentido da ação
educativa;
• Favorecer a pesquisa sobre a própria prática;
• Organizar adequadamente o currículo, racionalizando as experiências de
aprendizagem, tendo em vista tornar a ação pedagógica mais eficaz e eficiente;
• Estabelecer a comunicação com outros educadores e educandos;
• Não desperdiçar atividades e oportunidades de aprendizagem;
• Ser elemento de autoformação do educador na medida em que possibilita o
pensar mais sistematicamente sobre a realidade, sobre a proposta,sobre a
prática,ajudando,pois, a diminuir a distância teoria-prática,evitando a rotina
viciada e a improvisação;
• Resgatar o saber docente e a condição de sujeito de transformação e a
cultura pedagógica do grupo.
É uma questão de respeito a si e ao grupo:ao não nos dedicarmos ao
planejar,desvalorizarmos nossa própria atividade ( e antes disso,nossa própria
pessoa:implica que podemos perder tempo,recursos...) É também questão de
ética,de responsabilidade ( no mínimo pedagógica e política) por uma tarefa que
assumimos e que nos foi delegada socialmente.
No entanto,se o enfrentamento da situação é penosos com um
planejamento,certamente será bem pior sem ele,visto que ficaríamos bem mais
susceptíveis à desorganização interior e às pressões exteriores.Assim,o
processo de planejamento pode ser de grande valia,na medida em que busca re-
significar,orientar e dinamizar o trabalho.
Planejar pede envolvimento sincero na elaboração,e por isto mesmo as diferentes
posições vão se manifestar,gerando conflitos;as "neuroses",os componentes de
não-vida (desânimo,desesperança). É um trabalho exigente.Vai implicar
investimento de tempo e,sobretudo,energias,crenças,valores,verdade,reflexão...
Precisamos ter em conta que o planejamento é apenas um instrumento teórico-
metodológico.Poderoso,mas instrumento.Portanto,depende de sujeitos que assumam
(tanto na elaboração quanto na realização). Não é, pois,uma coisa maravilhosa:
é relativamente complexo,exigente e ainda falível.No entanto,não é também um
capricho; é uma necessidade!A menos que desejamos caminhar sem destino
certo,improvisando,agindo sob pressão, administrando por crise,sem procurar
intervir no vir -a -ser do real,abrindo mão da nossa condição de sujeitos.
O planejamento é sempre uma aproximação,uma tentativa,uma hipótese.deve estar
sempre atento e aberto à realidade.Precisamos de pontos de apoio e referência
para nos movimentarmos;mas isto não pode nos impedir de caminhar ou de trilhar
novos caminhos!
5. CONCLUINDO
Depois deste longo percurso,podemos ter clareza da complexidade e da
importância do planejamento no âmbito educacional e organizacional.Mais do que
sistematizar e disponibilizar ferramentas,esperamos,de alguma forma,poder estar
colaborando para superar bloqueios e apontar caminhos,a fim de fazer do
Planejamento um método de trabalho do educador (pessoal e coletivamente),que o
ajude na tarefa tão urgente e essencial de transformar a prática,na direção de
um ensino mais significativo,crítico,criativo e duradouro,como mediação para a
construção da cidadania,na perspectiva da autonomia e da solidariedade.que
efetivamente deixe de ser visto como uma função burocrática,formalista e
autoritária,e seja assumido como forma de resgate do trabalho, de superação da
alienação e instrumento de transformação.
6. BIBLIOGRAFIA
VASCONCELOS,Celso dos Santos.Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e
projeto político pedagógico.14.ed.São Paulo: Liberta,2005.204p.
Adaptação do texto: Rosilene Aparecida de Brito – Pedagoga-Psicopedagoga
Palavras-chave: planejamento,educadores,Formação
Gestor de postagem: Rosilene de Brito - Coordenação Pedagógica